O EQUILÍBRIO INSTÁVEL - a abertura dos ginásios em Portugal durante o COVID-19
Se há binómios difíceis de gerir, um deles é aquele que diz respeito às decisões dos vários países relativamente ao maior ou menor confinamento dos seus habitantes.
Qual é o ponto a partir do qual um confinamento generalizado e prolongado pode gerar situações de saúde piores que as diretamente associadas à própria pandemia?
Quando é que o “shut down” económico pode originar uma crise económica que possa levar a morrerem mais pessoas de fome do que de Covid-19?
Qual o impacto na saúde mental da população mundial, fruto das medidas de confinamento impostas?
Pandemias
Sabemos que o Covid-19 é uma doença causada pelo vírus SARSCoV-2 e que a proximidade entre as pessoas facilita o contágio. Daí falar-se do célebre necessário distanciamento social, termo que abominamos, já que tem uma carga altamente negativa relativamente a um distanciamento que é apenas físico.
A Covid-19 é a mais terrível pandemia desde 1918, desde a chamada “gripe espanhola”.
Estima-se que entre a primavera de 1918 e o verão de 1919 foram contaminadas 500 milhões de pessoas com a gripe espanhola.
Pensa-se que esta gripe terá matado cerca de 50 milhões de pessoas, ceifando maioritariamente a vida a crianças, jovens e pessoas de muita idade, sendo que muitos deles eram, todavia, saudáveis.
Ao longo dos anos houve várias pandemias, além das originadaspela gripe espanhola e agora pelo SARS-CoV-2:1889: gripe Russa (H2N2)1900: antiga gripe de Hong Kong (H3N8)
1918: gripe Espanhola (H1N1)
1957: gripe Asiática (H2N2)
1968: gripe de Hong Kong (H3N2)
2009: gripe Suína (influenza A [H1N1] )
Sabemos que o SARS-CoV-2, vírus responsável pela Covid-19, parou praticamente toda a atividade económica, lançando o mundo numa crise de saúde pública e económica sem precedentes.
Uma pergunta óbvia: porque é que em 2009 não foram tomadas as mesmas medidas de confinamento perante a pandemia da Gripe A (influenza H1N1)?
De facto, como o Sars-Cov-2, o H1N1 era, também ele, transmitido por meio de tosse e espirros ou pelo contato direto com uma pessoa infetada e com as secreções respiratórias.
Mas o H1N1 era duas vezes menos transmissível do que o novo coronavírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que uma pessoa com H1N1 era capaz de infetar de 1,2 a 1,6 pessoas.
Este índice, para o Sars-Cov-2, varia bastante de país para país, mas um estudo recente, usado como referência pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças da Europa, apontou uma taxa de transmissibilidade do Covid-19 de 2,79.
O cientista Neil Ferguson, do Imperial College of London, no Reino Unido, fala, todavia, num índice acima de 3.
Também as taxas de mortalidade diferenciam esta Pandemia da Gripe A.
A OMS estima uma taxa de mortalidade global associada ao Covid-19 de 3,4%, mas por exemplo, em Bergamo, Itália, a taxa de mortalidade superou os 12%.
Esta taxa tão alta não pode, todavia, ser considerada exata, já que a quantidade de testes de diagnósticos feitos foi muito baixa, o que provavelmente a inflacionou muito.
Segundo Van Kerkhove, da OMS, a taxa de mortalidade da Gripe A (H1N1) andará na casa dos 0,02% e estima-se que a taxa de mortalidade real associada ao Covid-19 ande nos 0,5 a 1 %.
Uma das justificações para tal diferença, diz o cientista britânico Spilki, é que o Sars-Cov-2 parece matar de forma mais direta do que um vírus como o H1N1.
"Normalmente, uma infeção viral está associada a outros elementos, como bactérias, que complicam o quadro clínico. Mas evidências apontam que o novo coronavírus consegue gerar sozinho uma doença grave e levar o paciente à morte", diz ele.
Isso torna esta Pandemia mais grave do que a da Gripe A?
Esses dois vetores, associados a uma maior transmissibilidade e letalidade do Sars-Cov-2 — refletem-se nos números oficiais da OMS sobre as duas pandemias.
Uma das razões para esta Pandemia ter mais impacto do que a Pandemia de 2009, prende-se com o facto das pessoas nascidas entre 1957 e 1968 terem tido contacto com duas Pandemias criadas pelo vírus Influenza, o que levou a que muitas das pessoas que em 2009 tivessem entre 41 e 52 anos estivessem imunizadas.
Este intervalo de idades representava uma grande fatia da população e contribuiu claramente para uma menorização do número de infetados.
Porque fecharam os Ginásios e Centros Desportivos
Os Ginásios, Fitness Centers, Centros Desportivos, Piscinas, etc…, são espaços onde circula muita gente e onde as distâncias de segurança entre pessoas são muito difíceis de garantir.
Por outro lado, muitas pessoas tocam nos mesmos sítios com as mãos, sem que haja a possibilidade de se higienizarem e desinfetarem convenientemente os espaços.
Imaginemos os casos seguintes: puxadores de portas, torneiras, misturadores de chuveiros cacifos, máquinas de fitness, pesos livres, colchões de treino, espaldares, TRX, materiais didáticos das piscinas, e muitos outros.
Quantas pessoas tocavam nestes materiais diariamente, no período pré-covid?
A resposta é simples: muitas!
A acrescentar a isto existiam aulas de grupo, em seco e em piscina, com muitas pessoas, e consequentemente muito próximas umas das outras.
O ritmo respiratório acelerado, consequência do exercício físico nessas aulas, leva a que a quantidade de ar inspirado e frequência da respiração sejam maiores, o que implica naturalmente, um significativo aumento do risco de infeção, causado pela aspiração de gotículas das pessoas mais próximas.
Em fevereiro de 2020, mais de 100 pessoas foram infetadas com o novo coronavírus após algumas aulas de dança na cidade de Cheonan, na Coreia do Sul, o que comprovou que atividades físicas em ambientes fechados proporcionam um risco elevado de contágio. Este estudo foi publicado na revista Emerging Infectious Diseases.
Segundo este estudo, foram registadas pelo menos 112 infeções decorrentes das aulas, em 12 clubes diferentes. Desses 112 utentes, 82 eram assintomáticos, ou seja 73,2%. Os instrutores foram responsáveis por mais de metade das infeções e embora nenhum apresentasse sintomas na época, 8 deles testaram positivo para o vírus. No total, eram 27 profissionais.
A pesquisa concluiu que a atmosfera húmida e quente dos locais fechados dos clubes, ambiente criado pelo próprio fluxo de ar gerado pelas atividades físicas de nível intenso, podem causar uma projeção mais concentrada de gotículas no ar.
Curiosamente, não foram registados casos em aulas com menos de 5 participantes. Nas aulas das modalidades de Pilates e Yoga, nenhum aluno contraiu a doença, o que nos leva à teoria científica de que as atividades de menor intensidade física não causam o mesmo efeito de transmissão.
Este estudo dá-nos indicadores importantes que temos que reter, no sentido da necessária e desejável reabertura dos Ginásios, Clubes e Centros Desportivos, nomeadamente no que diz respeito ao tipo de atividades que podem começar primeiro e na limitação necessária da lotação das zonas dedicadas ao exercício físico e balneários.
Porque é necessário reabrir os Ginásios, Academias, Clubes e
Centros Desportivos em Geral?
1) Razões de Saúde Pública:
Vários estudos científicos mostram-nos que a taxa de mortalidade por COVID-19 é maior entre as pessoas que sofrem de problemas crónicos de saúde, como hipertensão, diabetes ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
Segundo esses estudos, alterações no metabolismo causadas por essas doenças podem desencadear uma série de eventos bioquímicos que levam a um aumento na quantidade do gene ACE-2, responsável por codificar uma proteína à qual o vírus SARS-CoV-2 se liga para infetar as células pulmonares.
O aumento da expressão do ACE-2 e de outros genes que facilitam a infeção, faz com que este tipo de doentes tenha uma quantidade maior de células afetadas pelo vírus SARSCoV- 2 e, consequentemente, um quadro mais severo da doença.
Sabemos também que a vida sedentária é uma causa direta de alguns dos problemas de saúde acima referidos, como a hipertensão arterial. Isto indica-nos que teremos que reabrir a atividade de forma consciente e ponderada, respeitando novos protocolos de higiene e desinfeção e distanciamento entre as pessoas.
Note-se que a maior causa de morte em Portugal são os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC), e que por outro lado, somos um dos países do mundo com maiores taxas de mortalidade por AVC.
Portugal tem 42% de adultos hipertensos e 20,4% da população obesa. Segundo o observatório da Direção Geral de Saúde (DGS), em 2015 morreram 15 pessoas/dia devido a diabetes, em Portugal.
Temos também de considerar as questões relacionadas com a saúde mental, como a prevenção da depressão, que em muito podem ser atenuadas pela prática regular de exercício físico.
2) Razões de ordem económica:
Focando-nos agora mais no Fitness, os números do último barómetro da Agap/Portugal Ativo, indicam que em 2019 perto de 500.000 pessoas frequentavam o ginásio. A faturação de 2018 na indústria do Fitness estima-se em cerca de 260.000 M€. Em 2019, o valor de faturação terá sido de cerca de 290.000 M€.
A indústria do Fitness dá emprego direto a cerca de 9.000 pessoas e dá ainda trabalho a cerca de mais de 12.000 instrutores.
O Estado, além de receber as receitas de IRC, IVA, IRS e TSU, relativos ao negócio gerado pelo Fitness e às remunerações dos seus colaboradores e prestadores de serviços, beneficia ainda de uma poupança na Segurança Social, derivada do
incremento da saúde dos praticantes de fitness, que naturalmente reduzirão as suas necessidades de utilização dos serviços do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a aquisição de medicamentos comparticipados.
Numa altura em que o Estado aumenta enormemente a sua despesa pública, face às necessidades de gastos com o SNS e ao apoio aos trabalhadores em Lay Off, manter um setor com tanto impacto económico fechado, parece-nos impraticável.
Conclusão
Uma coisa é certa, com Covid ou sem Covid, temos que desconfinar rapidamente a atividade física, de forma perfeitamente enquadrada com as recomendações da DGS.
A CIMAI, na qualidade de parceira de longa data da AGAP/Portugal Ativo, preparou um Plano, exclusivamente dedicado à higienização e desinfeção de espaços desportivos, com especial enfoque no Fitness, independentemente da dimensão e tipologia dos clubes.
Temos mais de 32 anos de experiência no desenvolvimento, fabricação e comercialização de produtos desinfetantes concentrados, todos eles registados/notificados na DGS.
Todos sabemos que a indústria do Fitness só conseguirá sair desta crise sem danos irreparáveis, se conseguir que os seus clientes/utentes tenham confiança no sentido de que correm riscos mínimos, ao voltarem a utilizar os clubes.
Falhar a reabertura que se aproxima dos clubes, poderá ser fatal para toda a indústria do fitness e para os seus empresários.
Os planos de manutenção, de higiene e de desinfeção dos clubes vão ter por isso que ser todos refeitos e de seguida cumpridos de forma muito rigorosa, sendo este o único meio de garantirmos a segurança de colaboradores e clientes/utentes, e consequentemente de conquistarmos a sua confiança, de forma a trazê-los gradualmente aos clubes.
Pedro Mesquita
Diretor Geral da CIMAI
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